Quando eu escrevi o artigo O Fim da Profissão Front-end alguns anos atrás. Fui fortemente criticado pela “comunidade” de devs front-end. Conheci diversos impropérios que eu nunca imaginei existir. Esse artigo é de 2017, mas de lá pra cá, absolutamente NADA mudou sobre como o relacionamento de back-end, front-end e designers se dá. Mas o principal problema, na minha opinião, é a relação entre front-end e designer.

Eu nunca entendi, inclusive quando eu era front-end, por que os designers deveriam e tinham tanta dependência de desenvolvedores front-end. Os designers tinham um comportamento bastante recluso, com certeza. Não era tão colaborativos quanto a imagem pregava. Havia de verdade um muro entre times de design e desenvolvimento. Isso mudou bastante nos últimos anos, as tem exposto uma verdade inconveniente: designers entregam e geram mais resultados se estiverem mais próximos de onde as pessoas que usam o produto percebem o valor que esse produto/serviço oferece.

A principal responsabilidade dos designers de produto, na minha humilde opinião, é melhorar e evoluir ao máximo a jornada de experiência de uso das pessoas no produto/serviço. Eles fazem isso não apenas com pesquisas, entrevistas, frameworks e métodos de descoberta, mas principalmente por meio da manipulação e monitoramento do ambiente que o usuário está inserido. Hoje, o que acontece é que, qualquer alteração simples, seja de interface, fluxo ou marcação de eventos de comportamento, deve ser feito pelo front-end.

O design system não resolve essa relação, ela pode facilitar ter uma coerência visual além de técnica, implementando padrões que fazem sentido para as duas especialidades, mas ainda assim, o design system é estático. Minha proposta aqui é que os designers tenham mais controle
da mudança de comportamento do usuário ao utilizar a interface do produto, e que isso não fique na mão do front-end.

  • Mudança de interface UI
  • Mudança de monitoramento de comportamento do usuário
  • Definição e deploy de novos padrões do design system
  • Testes A/B de interface e fluxos
  • Recrutamento e Pesquisas de usuários diretamente pelo produto
  • Monitoramento e análise de dados de comportamento de uso do usuário

A relação entre designer e front-end ainda é aquele waterfall que todo mundo conhece, que gera burocracia, ineficiência, descontentamento, encadeamento e overlap de responsabilidades. O mesmo que aconteceu com a relação entre back-ends e front-ends, deve acontecer com designers e front-ends. Uma evolução de alçadas deve acontecer.

Antes, muitos anos atrás (quase duas décadas) o front-end preparava um código “estático”, onde os back-ends conectavam esse código com as informações e regras de negócio vindas do servidor. Essa relação gerava uma série de problemas técnicos e de relacionamento entre as partes. Com o passar do tempo, os back-ends não lidavam mais com a interface, servindo para os front-ends serviços que deveriam ser conectados por eles diretamente na interface, separando claramente as responsabilidades entre as duas especialidades. Back-end NUNCA devem ter contato com interface. Não faz sentido. Veja bem, essa divisão de alçadas foi um marco incrível, pois os back-ends poderiam agora se focar no que realmente era o seu trabalho, consequentemente a responsabilidade do front-end evoluiu (ou pelo menos deveria ter evoluído).

O que os fronts e designers deveriam estar fazendo então?
Eu acho que toda a parte de user interface é de responsabilidade dos designers, incluindo responsabilidades adjacentes, por exemplo, implementar data points para controlar e monitorar comportamentos do usuário na interface. Isso quer dizer que front-ends devem se preocupar com outra coisa. Três exemplos:

  • Performance. Ainda, o que mais pesa, é a parte de front-end. E é também o momento onde há a percepção de qualidade de estabilidade do sistema.
  • Regras de negócio que devem acontecer no front-end. Algumas regras de negócio acontecem sim no back, mas muitas outras, que dependem do comportamento do usuário, devem acontecer no front.
  • Criação, manutenção e monitoramento de APIs (sim, o back-end disponibiliza as bases de dados e toda a arquitetura, o front-end que deve criar os serviços que serão usados. Quem nunca ficou no meio de uma briga de backs e fronts para discutir como o formato do JSON deveria ser?)

Não acho que isso seja fácil de conseguir hoje. Talvez falte conversa, disposição, vontade de mudar. Talvez seja só medo mesmo.

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