Se você me acompanha aqui ou em outros canais por um tempo relevante, você vai perceber que direto eu publico ANOTAÇÕES. Essas anotações são exatamente o que elas são, anotações. Isso quer dizer que geralmente não tem uma racionalidade estruturada. São basicamente pedaços de informação ou ideias que tive quando estava consumindo algum tipo de conteúdo (textual, vídeo, áudio, imagem etc) e parei para anotar os pensamentos sobre aquilo.

Eu anoto tudo de forma compulsiva. Mas não estou falando de anotações de coisas simples, como uma sequência de números ou pedaços de informação para serem usadas dali alguns momentos. Para esse tipo de informação eu chamo de “anotações não permanentes”. Para essas anotações, uso o papel ou caneta, ou abro meu Sublime (sim, o editor de código) e anoto lá em alguma aba. Quando eu digo fazer anotação, falo de uma estrutura que vai servir para fazer publicações, estudos ou consultas posteriores.

Eu não uso nenhum tipo de método especial (desculpa aí amantes do Zettelkasten), mas eu tenho dois motivos importantes do porquê eu anoto tudo:

  • Ter um segundo cérebro, principalmente para coisas complexas e estruturadas;
  • Ter uma knowledge base pessoal (PKB - Personal Knowledge Base) onde eu posso consultar e construir mais conteúdo a partir dos conteúdos e estudos que já existem nessa base;
  • Esses são dois dos principais motivos que levam algumas pessoas a começarem a fazer anotações estruturadas. Eu me sinto mais inteligente e preparado fazendo isso, além de ter a sensação de que eu aprendo mais.

Quando você organiza e conecta essas anotações usando tags, links e backlinks você começa a ter uma ideia de como o seu segundo cérebro está conectado:

Essa é a imagem de como as minhas notas se conectam entre si. Sempre uso tags e links entre notas para conseguir ter uma coerência grande entre todos os assuntos que estudo, consumo e escrevo.

A ideia maluca de Sócrates sobre não escrever

Faz mais de dois anos que participei de um estudo que uma amiga minha estava fazendo no Hospital das Clinicas em SP. Ela estava coordenando um estudo sobre como problemas físicos como hipertensão afetam a memória das pessoas, ajudando num cenário futuro de desenvolvimento de Alzheimer e coisas desse tipo. Eu não tenho hipertensão, nem Alzheimer (ainda). Mas participei como contraponto, sendo alguém teoricamente saudável.

Bom, final da história: ela faz uma série de exercícios mentais e movimentam a sua memória de curto prazo. Tirei quase 10 em todas. Ufa. Mas ela me deu várias dicas, uma delas é que quanto mais anotamos coisas de curto prazo, por exemplo, endereços, números como de CEP ou telefone, instruções de como chegar a algum lugar ou até mesmo no trabalho, nós atrofiamos, de certa forma, nossa parte do cérebro usada para  lembrar memórias de curto prazo.

Então, o exercício que todo mundo deveria fazer para se precaver com Alzheimer e doenças que atrapalham a memória, é tentar lembrar dessas informações sem anotá-las. Tenho executado isso algumas vezes e tem dado certo. Tenho conseguido reter melhor informações “não permanentes”.

Sócrates tinha uma ideia parecida, mas não apenas com informações “pequenas”, mas com assuntos e conceitos mais complexos também. Como bem se sabe, Sócrates não escrevia absolutamente nada sobre suas teses, histórias e estudos. Nós só conhecemos o que Sócrates falou devido ao seu aluno Platão, que fazia questão de guardar em forma de escrita, os ensinamentos do seu mestre.

Socrates, who was adept at quoting lines from poems and epics and placing them into his conversations, fears that those who rely on writing will never be able to truly understand and live by these words. For Socrates there is something immoral or false about writing. Books can provide information but they cannot, by themselves, give you the wisdom you need to use or deeply understand that information. - Sullins, John, “Information Technology and Moral Values”, The Stanford Encyclopedia of Philosophy (Spring 2021 Edition), Edward N. Zalta (ed.), URL = <https://plato.stanford.edu/archives/spr2021/entries/it-moral-values/>.

Mas graças ao esforço de todo mundo que escreveu livros ou até mesmo as pinturas das cavernas, conhecemos o passado e podemos vislumbrar parte do futuro. E graças a tecnologia, podemos guardar, criar e compartilhar informação adoidado (tem gente que acha o contrário, e por isso fazem um estoque de livros e outras informações em papel no esforço de construir uma espécie de biblioteca mundial, mas essa é outra história) para todo mundo. Embora a maioria dessa informação se acumule como fotos de gatinhos e vídeos do tiktok. O que me leva a perguntar o que realmente é informação?

O que é informação?

Calma, agora eu só quero estimular você. Eu não quero começar a falar sobre esse assunto de forma detalhada por ele ser um assunto bastante complexo e eu não tenho gabarito nenhum para te explicar sobre isso. Mas perceba uma coisa: informação é “codificada” de uma forma que os outros possam entender através, de, por exemplo, letras. Os inteligentes especialistas da área chamam isso de Sintaxe.

Sintaxe é exatamente o conjunto de regras e regulamentos que utilizadas para criar frases, conectar palavras, criando orações e colocando pontuações para criar uma relação linear lógica desses símbolos. Isso é muito útil, sabia? Exatamente por que você aprende a sintaxe das letras que permite que você escreva e leia hoje em dia.

A provocação que os filósofos fazem é: essa “string”, ou seja, a coisa escrita não é a informação propriamente dita, mas ela é o que representa a informação, que precisa ser interpretada corretamente para que isso seja útil. Então, não basta apenas aprender a escrever e a ler, você tem que saber interpretar.

Não existe resposta totalmente satisfatória sobre o que é informação. Os filósofos não têm uma definição fechada sobre isso. Hoje, nós explicamos o que é informação com uma pirâmide como essa:

fonte: What is the Data Information Knowledge Wisdom Pyramid? | Ontotext

Nesse outro PDF, você tem uma prévia do que é informação:

Mas isso é só uma parte da história. Essa definição ontológica simplifica a coisa toda focando a definição de informação onde símbolos e dados são colocados em uma ordem que traga significado. Sintaxe, lembra?

Contudo, interpretar a sintaxe não é o mesmo que entender o que essa sintaxe significa. Uma máquina pode entender o que a sintaxe expressa, mas nem por isso ela sabe exatamente o que aquilo significa.

Há uma história chamada The Chinese Room Argument, ou Argumento da Sala Chinesa. Esse é um argumento feito pelo filósofo John Searle, onde ele diz que se construíssemos uma máquina que pegasse histórias escritas em Chinês que desse respostas coerentes sobre questões dessa mesma história, não provaria que a máquina entendesse ou soubesse o que ela está fazendo. Exatamente por que o que ela faz é simplesmente entender a sintaxe de símbolos. Ela não absorve, não internaliza, não mistura com suas próprias experiências. Contudo, se você substitui a máquina por uma pessoa que não entende chinês, o resultado seria a mesma coisa (um pouco pior, porque não teria um output de resposta coerente). Mas nenhuma das duas sabe o que está fazendo, embora a máquina consiga interpretar melhor a sintaxe.

Finalizando

O objetivo desse texto não é exatamente chegar a uma conclusão. Foi mal, desculpe. Mas é produto de uma curiosidade que eu tenho sobre como organizar, guardar e entender informação. Anos atrás eu escrevi um livro chamado Introdução à Web Semântica. Nele eu tentei explorar, de forma técnica (bem básica, porque não sou especialista), sobre como a Web Semântica já está impactando nossas vidas e como empresas estão usando isso para criar seus produtos.

Além disso, existem uma série de outros assuntos paralelos que podemos abordar a partir (de um ponto mais profundo) daqui. Por exemplo, Moral da Tecnologia, Ética nessa época insana de Tecnologia da Informação, Lógica e outros pontos interessantes, que só gente esperta e inteligente manja. Adoro falar sobre coisas que eu não manjo.

A Filosofia da Informação, abreviado para (PI) philosophy of information  inglês  ou (FI) em  português ) é um campo da pesquisa filosófica voltado para a investigação crítica da estrutura conceitual e dos princípios básicos da  informação  e ainda da elaboração e aplicação da  teoria da informação  e das metodologias computacionais aos problemas filosóficos, segundo definição do  filósofo italiano Luciano Floridi, mas é também objeto de estudos da  Ciência da Informação . — Filosofia da informação – Wikipédia, a enciclopédia livre
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