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Transformação Digital. Essa buzzword ficou no mainstream durante muito tempo. Empresas procurando se reinventar com o intuito de virarem “empresas de tecnologia”. Obviamente, chega o momento que a vida real sacode o acampamento hippie e algumas das empresas têm a sensação de que não é só aplicar Agile para que a transformação digital acontecesse. Aliás, só as que sobreviveram à “transformação digital” fake é que podem perceber isso. Há uma grande parte das empresas que não resistiram às mudanças ou ainda estão tentando descobrir o motivo pelo qual a implantação da “Agilidade” não deu certo.

Para aquelas empresas que passaram de fase, chegando de uma forma ou outra em um nível mais avançado no jogo da transformação, descobrem que o Agile faz parte de algo maior chamado “cultura de produtos”:

  • É aí que todos os POs da empresa ganham um banho de loja de nomenclatura, passando a se chamar APM, PAN, GPM, Tech PM, PM Ops...
  • Agora as pessoas fazem parte de Squads.
  • A adoção de OKRs se torna oficial.
  • O Jira vira ponto de encontro do time e todos têm uma conta no Miro.
  • PMs passam a usar Metabase e designers passam a se chamar Product Designers.
  • Discovery é obrigatório. Assim como frases do Marty Cagan adesivadas na parede.
  • Os devs também participam ativamente de todo o processo de discovery, porque agora eles querem entender as dores do usuário.
  • Meetups são organizados e termos como “soluções inovadoras, disruptivas com visão de longo prazo e alinhados com o seu propósito de vida” são largamente usados nas entrevistas.

E novamente, todos erram. Erram pois não sabem o que é uma Cultura de Produtos. Empresas assim acham que basta colocar todos os artefatos em um mesmo lugar que algo mágico vai acontecer. Você já teve a sensação que há um kit padrão para formar e criar uma empresa de Produtos/Tecnologia?

O que é Cultura de Produtos na minha opinião

Na minha opinião ter uma Cultura de Produtos não se trata de colocar o usuário no centro do processo. Não é pensar no Problema primeiro em vez da Solução. Não é vestir uma camiseta de “My Product, my rules” (alias, já vi PMs vestindo isso. Patético.)

Pra dar um contexto melhor, eu quero te perguntar: você não acha estranho apenas o “time de produtos” pensar ou ser o responsável por “entregar valor para o usuário e para o negócio”?

Oras, a empresa existe pra gerar valor para seus clientes e principalmente para o seu negócio. E o negócio só existe e é sustentado por causa de diversas pessoas (com diversas especialidades) focadas em gerar resultados. Então, por que só o “Time de Produtos” teria a responsabilidade nobre de entregar o valor para o usuário e para o negócio? Para mim soa tão estranho quanto ter um time de inovação.

Essa tal de cultura de produtos existe a partir do momento que nós quebramos esse muro que separa o resto da empresa do time de produtos, afim de que toda a empresa tenha times interdisciplinares, com tantas especialidades que forem necessárias para facilitar a criação de valor por meio do serviço a partir da experiência do usuário.

Interdisciplinaridade em vez de Multidisciplinaridade

Quando eu trabalhava na Easynvest, o time que eu fazia parte era responsável pela jornada de escolha de produtos financeiros nas plataformas digitais. Nosso escopo começava desde a fase de colocar dinheiro na sua conta até o momento final do processo de investimento. Logo, percebemos que não fazia sentido o time ser formado apenas por Designer, Devs e PM, mas que precisávamos de alguém de Marketing pra comunicar os clientes sobre os novos produtos disponíveis. Fazia sentido ter alguém de Pricing, porque poderíamos começar a trabalhar com preços dinâmicos. Fazia sentido ter alguém do comercial, trabalhando junto com alguém de dados, para fazermos estudos melhores afim de arranjar produtos mais adequados às necessidades e a demanda dos usuários da plataforma. Antes de eu sair de lá, já estávamos com Marketing e Pricing no time, e estávamos nos preparando pra receber alguém da mesa de negociação.

Me parece que tudo volta ao começo do ciclo: uma empresa com pessoas focadas em um mesmo objetivo.

Então, a pergunta original não seria sobre como implementar uma cultura de produtos, mas sim sobre como construir e disseminar uma cultura empresarial adequada, saudável, motivadora e acima de tudo imbuída de propósito.

Concluindo

Com certeza você deve se perguntar agora: ok, mas quem faz a gestão desses times? Se tiver um Team Lead, ele vai ter que precisar manjar de todas as especialidades? O PM vai gerir o backlog da pessoa de Marketing e Comercial?

Se esse for seu pensamento, nós teremos que conversar mais sobre novas maneiras de fazer gestão de times. Mas fica pra um próximo texto. Pra começar, fique alerta na minha newsletter pessoal. Vou publicar um texto de um review de livro incrível sobre equipes auto-geridas.

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