Tecnologia, user experience e conhecimento do comportamento digital do usuário. Estão aí três coisas que as corretoras não estão prestando atenção.

O Bernardo da Yubb fez um artigo sobre o status atual do mercado de corretoras do Brasil.
Ele consegue ter esse parâmetro porque lidera um dos serviços mais úteis que todo o investidor comum deveria contar que é o Yubb.

Eu preciso que você leia primeiro o artigo do Bernardo, antes de continuar esse texto.


O Marketing é bom, mas não basta.

As corretoras sabem que o futuro pode ser promissor, mas atualmente estão se parecendo como cegos tateando num quarto escuro. Não acho que elas estão realmente “antenadas” no usuário.

Meu chute é que a maioria das corretoras vai se perder num mercado aberto, descentralizado, automatizado e mais integrado do que elas podem imaginar.

O lema da maioria das corretoras é sempre baseadi na desbancarização ou a
democratização dos investimentos. Elas costumam dizer que elas proprias sao as responsáveis pela mudança de comportamento das pessoas perante o dinheiro. Embora algumas corretoras invistam em conteúdo educativo — destaque para a Easynvest, que tem um ótimo conteúdo nas redes sociais e YouTube — nenhuma delas realmente conseguiu se fazer entender como elas podem ser uma ferramenta útil nessa guerra que é cuidar do seu próprio futuro.

Quando eu comecei a investir há um tempão atrás, passei por aquela fase de do medinho de “e se eu estiver fazendo alguma coisa errada?_ que todo o novo investidor pensa. Mas eu já sabia lidar com meu dinheiro, então, o processo foi mais brando. Mas mesmo assistindo todos os vídeos das corretoras, material impresso, online, Primo Rico e Nathalia Arcuri, as pessoas ainda se sentem inseguras. A maioria das corretoras te deixa sozinho pra escolher entre um mundo de opções (sem trocadilho).

Dúvidas, desconhecimento e mais dúvidas

Outras corretoras oferecem um consultor: Mas e se o consultor for igual ao gerente do banco? E se ele quiser me enganar?

Há também os questionamentos pessoais: E se eu precisar do dinheiro? Se eu
morrer, o dinheiro desaparece? E se cobrar uma série de taxas que eu desconheço? Como é o processo pra tirar dinheiro de lá?

São dúvidas honestas que todo novo investidor se faz, que expõe algo que talvez seja um paradoxo: mesmo com tanta informação e milhões de vídoes explicando o que é tesouro direto, as pessoas ainda continuam com as dúvidas básicas, além de ainda terem medo.

Mas embora todo esse marketing e buzz tenha servido para colocar a palavra
investimento na boca do povo — o que é um ótimo passo — , as pessoas comuns ainda não sabem a diferença entre uma corretora e outra. Além disso é muito difícil encontrar pessoas que entendem de verdade o linguajar técnico que TODAS as corretoras ainda insistem em usar.

Perguntas “simples” como as abaixo quase sempre não são respondidas e quando são as dúvidas existem:

  • Quanto tempo tenho que deixar o dinheiro lá? “Depende
  • Quanto tenho que investir por mês? “Depende
  • Só tenho R$50 pra investir, é suficiente pra fazer um bom pé de meia?
    Depende
  • Isso é como investir em ações? “Depende
Entre assistir um vídeo no YouTube e transferir o dinheiro para uma corretora há um caminho tortuoso que ninguém conhece: nem usuário, nem corretora.

Vários serviços - como o Warren — tentam responder essas perguntas trazendo uma interface mais agradável, mostrando apenas o necessário para o usuário e tentando, ao máximo, não expor as informações complexas do mercado. A galera que investe no Warren, por exemplo, investe em ETFs, mas nem precisam saber disso.

Contudo, eles fazem questão de deixar tudo lá, de forma transparente, para
agradar também ao investidor um pouco mais bem informado.

Tecnologia?

Outro ponto é que NENHUMA das corretoras sabem realmente lidar com tecnologia. Depois de várias notícias sobre vazamentos de informações e ataques, algumas delas até tomaram providencias para impedir qualquer problema mais sério, contudo, a forma com que elas lidam com tecnologia está longe de ser o ideal.

Todas elas dependem de fornecedores terceiros ruins (bem ruins, eu diria) e até integrações que deveriam ser relativamente fáceis com a B3 são imprevisíveis ou complexas. Muito mato alto pra cortar e pouco investimento de verdade na área de tecnologia.

Um exemplo simples são as operações de aplicação/resgate de fundos, que na
maioria das vezes são feitas de forma manual ou com processos parcialmente
manuais. Provavelmente algumas delas podem ter melhorado parte do processo, mas duvido muito.

As corretoras e principalmente todo o ecossistema que elas se baseiam, não estão preparados para o varejo de verdade.

Conclusão

Pra mim, as corretoras tem muito chão pra caminhar. Ela precisam se transformar de dentro pra fora. Não é um rebranding ou milhões em marketing que farão seus sistemas ficarem mais seguros, as interfaces dos produtos digitais mais fáceis ou os jargões mais palatáveis. É preciso muito mais.

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