Esse texto foi publicado antes na minha newsletter. Assine e entre para um grupo de mais de 320 pessoas.
Eu conheci essa história por acaso. Algo em torno do dia 19 de Junho, o Fairbanks Bus 142, um ônibus de 1970 foi retirado da Stampede Trail, no Alaska. Quando vi a reportagem, onde citava brevemente a história do ônibus e da região, corri para pesquisar mais sobre o assunto e acabei encontrando o livro Natureza Selvagem do Jon Krakauer.
Existe muita polêmica em volta da história sobre o que realmente aconteceu com Alex Supertramp, ou melhor, Chris McCandless, que é seu nome original. Ele morreu em 1992 no Alaska, de inanição, dentro do ônibus abandonado.
Há muita teoria envolvendo a reputação do McCandless e os motivos que o levaram a fazer essa aventura, sua (falta de) preparação e motivos da morte. Contudo, parece que a história cativou uma legião de fãs e foi bem potencializada por este livro e pelo testemunho das pessoas que o McCandless se relacionou enquanto fazia a sua jornada.
O livro carrega muito sentimento. Jon Krakauer é obcecado pela história e pelo próprio McCandless. Jon explica que pouco tempo depois do corpo de McCandless ser encontrado, o editor da revista Outside Online (dedicado à artigos, histórias e conteúdo sobre práticas esportivas em ambiente aberto), pediu para que Jon escrevesse um artigo sobre a morte do rapaz. Foi um artigo de mais ou menos 9000 palavras e foi publicado na edição de Janeiro de 1993. O próprio Jon Krakauer é um montanhista, o que explica bastante parte da fascinação dele pelo acontecido.
“Não tenho pretensão de ser um biógrafo imparcial. A estranha história de McCandless tocou-me pessoalmente de tal forma que tornou impossível um relato desapaixonado da tragédia. Na maior parte do livro tentei — creio que, em larga medida, com sucesso — minimizar minha presença de autor. Mas que o leitor esteja atento: intercalei a história de McCandless com fragmentos de uma narrativa baseada em minha própria juventude.” — Krakauer, Jon. Na natureza selvagem - Nova edição com posfácio inédito do autor (p. 6). Companhia das Letras. Kindle Edition.
Chris queria fugir. Queria fugir da cidade, das “garras” do governo, das regras e restrições sem sentido impostas por e para a sociedade. Queria fugir da forma plástica, formal, alineada que todos vivem. Acho que é normal o ser humano tentar encontrar a si mesmo longe dos outros, do coletivo, do barulho. Pensam que se talvez ingressarem em uma jornada arriscada ou fazer algo muito fora da curva do que chamamos de “normal”, encontrarão algo novo e valioso dentro de si mesmas.
Talvez seja por isso que algumas pessoas viajam para locais remotos ou vão para uma jornada espiritual em lugares como Índia ou sei lá, Tailândia. Acredito que todas as pessoas têm uma inquietação interna e cada uma canaliza essa inquietação da forma que mais lhe convém. Acho que esse tipo de comportamento pode ser uma forma de expressão.
I HAVE HAD A HAPPY LIFE AND THANK THE LORD. GOODBYE AND MAY GOD BLESS ALL. — Uma das últimas notas do “diário”, feita no dia 12 de Agosto de 1992.
Existe também um ótimo filme, dirigido pelo Sean Penn, em 2007. Acabei de assistir e é bem fidedigno ao livro do Krakauer. Obviamente, assim como o livro, o filme glamoriza muito a história.
O corpo de McCandless foi encontrado por caçadores de alce em setembro de 1992. Ele morreu em agosto.
“Eu queria movimento e não um curso calmo de existência. Queria excitação e perigo e a oportunidade de sacrificar-me por meu amor. Sentia em mim uma superabundância de energia que não encontrava escoadouro em nossa vida tranquila.” LEON TOLSTOI - “FELICIDADE FAMILIAR”, TRECHO SUBLINHADO EM UM DOS LIVROS ENCONTRADOS COM OS RESTOS DE CHRIS MCCANDLESS, Krakauer, Jon. Na natureza selvagem - Nova edição com posfácio inédito do autor (p. 22). Companhia das Letras. Kindle Edition.
Se você gosta de biografias, pode ser que goste de ler esse livro. Acho que ele deveria ter sido mais curto, mas talvez perderia o sentimento que ele carrega, virando apenas uma simples biografia póstuma.
Discussão dos membros