Você já percebeu que hoje a humanidade está obcecada por dividir os alimentos pelo que eles são compostos e não propriamente pelo alimento em si? Eu sei, é complicado. Mas veja: nós acreditamos que podemos dividir o mundo dos alimentos em nutrientes bons e ruins. Se tem muita gordura, é ruim. Se tem pouca fibra, é ruim. Se tem muita vitamina C é bom.
Quando visitamos o supermercado, vemos o tempo inteiro uma série de embalagens coloridas com todos os dizeres de “sem isso, com aquilo, fonte de…“. Faz tempo que o nome dos nutrientes ficaram mais chamativos que o nome do próprio alimento. A Margarina é o símbolo de como isso funciona. Todos sabem que a margarina é a “manteiga feita em laboratório”. Se a gordura trans faz mal, os fabricantes correm para retirar a gordura trans da margarina e pronto, ela está nova em folha. Se você tem problemas de colesterol, sem problemas, a Margarina vai regular seu colesterol e ainda diminuir as suas changes de ataque do coração. Esse tipo de manipulação é feita quantas vezes forem necessárias para que o produto se adeque ao novo padrão atual do que é saudável estabelecido pela indústria.
Essa ideia de escolher quais os nutrientes vilões e os bonzinhos é algo muito complicado. Comer isoladamente um nutriente é muito diferente do que quando ingerimos esse mesmo nutriente em uma alimentação completa. Um exemplo é quando comemos tomate com azeite em vez de comer o tomate sozinho. Comer o tomate junto com o azeite aumenta a quantidade de antioxidantes que são absorvidos pelo corpo. Esse tipo de reação acontece a todo momento com todos os alimentos que ingerimos. A partir da combinação dos alimentos, algo é produzido e metabolizado pelo corpo de forma diferente se ele fosse ingerido já pronto.
Esse jogo de bom e ruim muda com o decorrer da história várias e várias vezes. O Ovo foi o vilão por muito tempo por causa do colesterol. Depois ele foi liberado. Até mesmo a manteiga foi considerada a vilã durante um tempo e que a margarina era boa por ser uma gordura vegetal. Estamos tão condicionados ao que a indústria nos empurra, que fica difícil saber se um alimento rico em gordura é bom ou ruim para saúde. De qual gordura eles estão falando? E se for rico em fibras, com pouco carboidrato, é melhor? Mas carboidrato não é o combustível do nosso corpo? Então tem que ter mais proteína do que carboidrato? Mas ainda assim preciso manter diminuir a ingestão de gordura? E não, não estou exagerando. Todo mundo tem essas dúvidas quando passa pelo corredor do supermercado e vê aquela caixa de cereal dizendo que é “fonte de 10 vitaminas essenciais” e que vai despertar o tigre em você… Tudo isso com um floco de milho com um bocado de açúcar colado nele…
O Michael Pollan é o cara que briga com a indústria sobre esse assunto. Ele diz isso em alto e bom som no seu livro “Em Defesa da Comida”. Em uma entrevista, ele fala assim:
Atualmente, os alimentos são vendidos apenas com base em seus benefícios para a saúde: um é capaz de reduzir seu colesterol, outro tem muitas fibras. Os nutrientes tornaram-se mais importantes que a comida em si. O alimento é apenas um intermediário na entrega destas substâncias. Como os nutrientes são invisíveis para todos, exceto para o cientista e seu microscópio, escolher o que comer tornou-se uma decisão para profissionais, e não para amadores. Tem-se a impressão de que é necessário ter um diploma de bioquímica para tal escolha, o que não é correto. Além disso, as mensagens científicas com relação à comida são muito confusas. Há muita divergência entre nutricionistas sobre o que é ou não saudável.
Ele até usa o termo nutricionismo para essa era onde a indústria e a população dá mais atenção para os nutrientes ingeridos do que para a própria comida. Sugiro que você pare para pensar no que você come no dia a dia e tente identificar os “alimentos” mentirosos, que são na realidade uma série de nutrientes embrulhados numa embalagem bonita. Quando identificá-los, tente removê-los da sua dieta. Esse é um bem que você fará para o seu corpo.
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